domingo, 28 de agosto de 2011

Depois do Sol...

Fez-se noite com tal mistério,
Tão sem rumor, tão devagar,
Que o crepúsculo é como um luar
Iluminando um cemitério . . .
 
Tudo imóvel . . . Serenidades . . .
Que tristeza, nos sonhos meus!
E quanto choro e quanto adeus
Neste mar de infelicidades!
 
Oh! Paisagens minhas de antanho . . .
Velhas, velhas . . . Nem vivem mais . . .
— As nuvens passam desiguais,
Com sonolência de rebanho . . .
Seres e coisas vão-se embora . . .
E, na auréola triste do luar,
Anda a lua, tão devagar,
Que parece Nossa Senhora


Pelos silêncios a sonhar . . .

Esperemos

Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pássaro

PARA VIRIATO SAMPAIO

Você – passarinho
Voa com destino certo
Faz nó igualzinho
De deixar ninho forte
que nem o vento simum
quente e forte, segura teu enraizado forte

Desata teus nós
Um a um, dois a dois, de uma vez,
Ensina e também aprende...
Deixa viverem, sós,
Voa sem deixar rastro
Casto animal selvagem – ilusão

Na tua boa-fé é que acreditam
Ajuda pássaro, que gera penar!
Não és o que há de mais árduo
Mas és o que há de apetecer
Reaprendam então insanos
A comer apenas o que o pássaro há de trazer!
Laís Câmara

sábado, 20 de agosto de 2011

Espremendo

O tempo da poesia chegou novamente
Quem disse que sou poeta?!
Sou não Machado! Calma!
Sou quem bebe, desajustada, a taça à mão,
sou quem cheira, entediada, sempre, nada, estou entediada,
sou teu pedido, sou teu esterco,
teu, sou eu, imprecisa e potencialmente desmedida,
espremida, com poros de fuga facilitando a minha vida!
Perdão Machado, se te fiz envergonhado, juro que tentarei.
Por hoje, me deixa evidenciar o que tu rejeitas?



Laís Câmara