sábado, 22 de outubro de 2011

Viver de Expediente

Descobri o segredo do teu engodo, és malandro de 360º 
De altitudes niveladas ao Pico da Bandeira 
E o que hasteia? Ambições... 
Pé furado que deixa rastro e desafeição 
É assim, o sangue do malandro 
Deformando a verdade 
Exaltando “A” palavra, só tem “UMA” palavra 
Exaltando a exagerada bajulação astuciosa 

Eis o malandro de uma volta e meia! 
Com desfrute perneia sua calça branca 
Filho do induto, sono, afago, ardor do tapa, 
És a letra última do alfabeto da vida 
Malandro de pista 
Malandro que quase vê o seu deus 
Até a vista, agora onde mais se pisa é teu!

Descobri de onde vêm tuas “distrações”, 
E tua plena lascívia, 
Teus Santos e condimentos que se deitam, apurando... 
Ficando do que gastou ou usou 
Mulher pública! 
Inspiração primordial do amor?!
Amor!? 
Puberdades inauguram pro seu mais recente e criativo ataque!

Ès malandro não disfarce, és a vida! 
Mais que uma fina forma de firma 
Vindoura de veneráveis vítimas na volúpia vívida 
Ès malandro, mais ataque! És malandro na descida 
Estivestes sempre no estandarte 
Malandrei agora na despedida! 

                                                            Laís Câmara
                                                            Viriato Sampaio

domingo, 16 de outubro de 2011

Poema Sujo

[...] Do corpo. Mas que é o corpo?
Meu corpo feito de carne e de osso.
Esse osso que não vejo, maxilares, costelas
flexível armação que me sustenta no espaço
que não me deixa desabar como um saco
vazio
que guarda as vísceras todas
funcionando
como retortas e tubos
fazendo o sangue que faz a carne e o pensamento
e as palavras
e as mentiras
e os carinhos mais doces mais sacanas
mais sentidos
para explodir uma galáxia
de leite
no centro de tuas coxas no fundo
de tua noite ávida
cheiros de umbigo e de vagina
graves cheiros indecifráveis
como símbolos
do corpo
do teu corpo do meu corpo
corpo
que pode um sabre rasgar
um caco de vidro
uma navalha
meu corpo cheio de sangue
que o irriga como a um continente
ou um jardim
circulando por meus braços
por meus dedos
enquanto discuto caminho
lembro relembro
meu sangue feito de gases que aspiro
dos céus da cidade estrangeira
com a ajuda dos plátanos
e que pode - por um descuido - esvair-se por meu
pulso
aberto


Meu corpo
que deitado na cama vejo
como um objeto no espaço
que mede 1,70m
e que sou eu: essa coisa deitada
barriga pernas e pés
com cinco dedos cada um (por que
não seis?)
joelhos e tornozelos
para mover-se
sentar-se
levantar-se


meu corpo de 1,70m que é meu tamanho no mundo
meu corpo feito de água
e cinza
que me faz olhar Andrômeda, Sírius, Mercúrio
e me sentir misturado
a toda essa massa de hidrogênio e hélio
que se desintegra e reintegra
sem se saber pra quê


Corpo meu corpo corpo
que tem um nariz assim uma boca
dois olhos
e um certo jeito de sorrir
de falar
que minha mãe identifica como sendo de seu filho
que meu filho identifica
como sendo de seu pai


corpo que se pára de funcionar provoca
um grave acontecimento na família:
sem ele não há José Ribamar Ferreira
não há Ferreira Gullar
e muitas pequenas coisas acontecidas no planeta
estarão esquecidas para sempre


corpo-facho corpo-fátuocorpo-fato [...]

Paz

Nem máquina, nem caneta
Solidão e memória me bastam
Onde usufruo de gostos
E desabrocho em desejos

Pois é na solidão que nasce
Eu Deus e Eu Eu
E na memória, trajetória vivente
                       Eu sou completo, quero ver minha transparência,
Intacta e aberta.

Espia os escuros e os leva ao Sol,
Voltamo-nos ao útero
Paraíso
Tácito amigo inter-intro-explodido.


                                                                                                               Laís Câmara

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Solidão


Vejo bem, meus bens,
Eu voltei a ter,
Aquela preguiça de antes...

Me preocupo mais,
Com meus arrependimentos,
Calçada ou de pés no chão...

Sou regressão,
Durmo há um tempão,
E agradeço diariamente à solidão...


                                                                                           Laís Câmara