sábado, 7 de janeiro de 2012

Poema Limpo

Peço licença a Ferreira Gullar para dedicar esse poema a Laís Câmara. 
Espero que ambos gostem...


Tenho para te dedicar palavras belas

Da Bahia que conheci por ti, por dentro 
Sou agora nessa rede, que balança
Ao vento...
Maria que te vejo da sombra de um coqueiro 
Sempre com olhar distante, nunca vendo
Ter mais que tempo para te conhecer
 

Como é você se não te conheço?
Já te vi com pressa e sem medo
Já te vi com pressa e desejo 
Já te vi sempre sorrindo 
Já te vi...
 

“Por favor” me encante baiana 
Você tem ímpeto de flor do sol
Com seu – “me deixe” “me peque”
Me solta para o mundo com seu amor
 


Aprendi a ser você 
Coisa minha, mas tem tu um mim
Coisa sua essa veia boêmia
Agora não tem canto que eu não beba
Não tem tanto nem boteco 
Agora me diz e escreva seu querer!
 

Era para dizer de você
Mas “Ta tudo certo!”
 

Tem mais que ter tempo para falar
Em cada momento tenho um curso 
Acaba por meio tempo há interromper 
Tem você, neném, coisa de viver
 

Agora estou na praia e te ligo
E você gosta, pede e até aposta
Só para ver o que vai dar
 

Limpo bom trato tranquilo 
De lado fino trado do corpo continuo
Embriago meu limo velho e tardo 
O que há de se ver no meu poema limpo?
 

Você joga fora também 
Ter pressa
Ter medo 
De você ver o passado
E penso
E penso 
E penso, e tardo, e retardo
E descubro
Não posso lhe deter, não, como há?
És tão viva quanto menos pode 
Dizer o que?
 

Gosto de ver você ser mais... 
Faz como trato de não prender a ti
Dor sobre seus olhos paira a cor
Infinita longa fita de cabelo solto
Dessa que da tom de menina
Prestes a se conhecer de có
Tem coisa você
Tem de ter
Em liberdade de ser
 

Levanto em lapsos, consigo só às vezes
Mas eu gosto de verso incerto 
Não ser o que prometi 
Estou na praia e a cerveja já veio
Tem olho de boca quieta, tem cor de perna 
Tem som de música, ter, ver, cor, perder
Você que come quietinha há olhar, há beber
Vinho que gosto tem a fruta do querer?
Tão forte lenha que balança, e o amor?
Lampeja frio, sem graça no seu mover
Gosto mais quando anda de saia sem óculos
Sabe-se lá o que tem para ver!
 

Agora me parece infinito poema
Falar poderia todo o tempo 
De coisas que nem sempre digo, nem ao acaso
Deveria eu o mistério destrancar??
Teria motivo?
Duvido
Hoje tenho o sol, brilha com sua sombra
Junto com aquele pescador que em ti encanta
Junto tanto sorriso que você pede para dizer
Das aventuras que fiz
E fiz
E quer você saber 
Há dor, como não ?
E você acorda, outro dia
E vem
Como um ato cintilante, inteiro, eterno
E tudo é novo dia, já passou, é outro, é outra
 

Então se faz noite
Entrelaçado na hora escura, sozinho
Nessa missão tremo em distância
Gosto ardido–doce da cana fermentada
Já é noite
Uma dessas suas, coisa inacabada
E toda letra continua
 

Terço frases de sinuosa sombra
Sonora sentença sintonia 
Sonhando sendo saio do seu
Senso sorriso com meu sonido
Lembro
Sei que gostas da sonoridade
Sorvo os éses como sinfonia
Sorte se saberei sancionar a poesia
Saem soltas palavras sem sentido 
Sorte seria se consigo!
 

Por fim devo entrar na coisa
Troçar com seus cachos longos
Beleza em ondas
E vosmecê ainda duvida
Merece todos verbetos, pequenos 
Na sua companhia distraída 
Na volta com sua filha, saltita 
Na vida sua, saltita
Pula para próxima cadencia de sim!
Ter como eu poderia descobrir isso?
Sem seu samba
Na vida tua que pula, criança
Na vida gosta de ver o desfile
E sorrir, e sofrer, e chorar, se esconder
Euforia fica, com amor, com raiva
Mas nada importa, percebo agora Maria! Terminar não podia, não apenas em poesia. Tem tanta prosa na tua vida, que, tem que ser corrida linha para tentar, chegar, em ti. 
Mar, cor, Maria, calor, mais, cachos, 
Mesmo, dia, melhor, dor, minha, diva
Maestria da Bahia
Você
Baiana das antigas
Siga.
 

Chega ao fim como em um leve toque 
No couro dos seus cachos, um beijo 
Na sua face, um cheiro
Do melhor que tem no mundo! um...
Até
Logo.

2 comentários:

  1. Bárbaro!!! Lúdico, lindo! Isso é você, amiga! Um beijo grande com muita saudade! PARABÉNS AO AUTOR PELA FLUÊNCIA E POÉTICA!

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  2. Estive por aqui lendo os seus poemas atuais e não resisti em voltar a ler esse.....

    O única coisa que pode-se dizer desse poema é você - Maria Laís!
    que sorte que pude perceber você!

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